Pintura de Frei Carlos
Adega dos Frades do Convento de Espinheiro ...
Convento do Espinheiro
Pintura de Frei Carlos
Restaurante do Hotel do Convento do Espinheiro em Évora.
O Convento de Nossa Senhora do Espinheiro recebia, com frequência, a visita dos nossos reis, sobretudo os da dinastia de Avis, que tinham muita devoção pela Virgem, e, por isso, lhe prodigalizavam grandes dádivas e privilégios.
Foi este convento construído no reinado de D. Afonso V, que logo começou a frequentá-lo.
Quando da expedição a Arzila fez o Africano uma promessa à Senhora do Espinheiro, para que ajudasse as armas portuguesas no combate; e, no caso de sair vitorioso, oferecia-lhe uma estátua de prata, em que estaria representado, a cavalo e vestido com uma armadura branca. Conquistada a praça, cumpriu D. Afonso V o voto.
D. João II, tendo herdado de seu pai a grande devoção pela Senhora do Espinheiro, sempre que a corte estava em Évora, ia com frequência ao convento, chegando até a pernoitar na hospedaria, que mandara construir junto da igreja e onde tinha para si uma tribuna. Neste convento reuniu el-Rei as Cortes em 1481.
Quando o rei pernoitava no convento, pedia ao sacristão que lhe levasse um pequeno cofre com silícios e livros espirituais e, do qual só ele possuía a chave.
Fechava-se então na igreja até de madrugada, passando a noite em vigília, diante da Senhora, martirizando-se e penitenciando-se, ao mesmo tempo que pedia pelo seu Reino e por sua família.
Numa noite de calor, enquanto o Rei permanecia na igreja, subiu o sacristão a um dos terraços para tomar um pouco de fresco, quando ouviu vozes no claustro. Ficando surpreendido por naquela hora ali haver alguém a falar. Pôs-se à escuta e, através de uma fresta, percebeu que se tratava de fidalgos a prepararem uma conspiração contra D. João II. Ficou admirado o auxiliar com o que ouviu e, quando de manhã o Rei lhe mandou abrir a porta da igreja, relatou o que presenciara.
Faziam parte da conspiração, D. Fernando de Meneses, com os cúmplices D. Fernando da Silveira, Álvaro de Ataíde, Guterres Coutinho, Pedro de Ataíde, Pedro de Albuquerque e D. Garcia de Meneses, como nos conta o Padre António Franco.
Em 1490 reuniu D. João II as Cortes em Évora para pedir auxílio para o casamento do seu filho D. Afonso, com a Princesa D. Isabel, filha dos reis católicos.
Mandou el-rei uma brilhante embaixada a Sevilha, onde estava a corte castelhana, para tratar da boda, tendo o embaixador Fernando da Silveira, recebido a princesa em nome de D. Afonso. Quando chegou a nova a Évora, onde então a corte se encontrava, houve grande alegria.
D. Isabel deixou Espanha em 1490, com direcção a Portugal, onde entrou por Badajoz. No Caia, esperavam a Princesa D. Manuel, duque de Beja e D. Afonso, Bispo de Évora, além de muitas outras pessoas ilustres. Ficou nessa noite em Elvas, partindo no dia seguinte para Estremoz, onde, de surpresa, lhe apareceram o rei D. João II e o Príncipe.
No dia seguinte partiram o rei D. Afonso para Évora, seguindo um pouco mais tarde, a princesa acompanhada pelos altos dignatários da corte, que haviam ido esperá-la à fronteira. Dirigiram-se para o Convento de Nossa Senhora do Espinheiro, onde tudo estava ricamente preparado para receber tão ilustre visitante.
No outro dia, os reis acompanhados pelo herdeiro do trono e pela corte foram ao Convento onde a rainha viu a bela princesa. Encaminharam-se em seguida para a igreja, sendo os príncipes abençoados pelo arcebispo de Braga, cerimónia a que se seguiu missa pontifical. No fim da cerimónia, D. Isabel retirou-se para os seus aposentos e D. João II com toda a comitiva regressou a Évora.
Nos dias que precederam a entrada solene da princesa na cidade, foi visitada por D. João II e por D. Afonso. Contam antigas lendas que «antes d’ella entrar na cidade, ali nas casa do mosteiro, onde posava, teve o príncipe ajuntamento com ela; o que de muitos foi estranhado por ser em casa de Nossa Senhora, e de tanta devoção» Acrescenta-se que, nessa mesma noite, caiu uma ameia da igreja, junto do aposento onde os príncipes se encontravam, o que levou o vulgo a pensar que se tratara de castigo divino pelo acto pecaminoso cometido.
Num domingo de Novembro, mais propriamente a vinte e sete, do mesmo ano de 1490, entrou solenemente a princesa em Évora.
Dirigiu-se D. João II com grande pompa ao Convento do Espinheiro acompanhado pelo clero, nobres e corte. Abriam o cortejo trombetas, tambores, arautos, reis de armas, passavantes e muitos mais dignatários, todos muito bem vestidos e montados em belos ginetes.
O rei, ricamente vestido à francesa, cavalgava num cavalo ruço, seguido pelos seus pajens e toda a fidalguia. Pelo caminho, da cidade até ao mosteiro, todo o povo nos seus trajes domingueiros assistia a tão esplendoroso desfile.
Mal chegou ao Espinheiro, saiu logo a princesa, ricamente ataviada, que montou uma mula, seguida por suas damas e numeroso séquito castelhano. Pôs-se então o cortejo a caminho de Évora - coisa tão bela que poucas vezes fora vista, devido ao deslumbramento colorido dos ricos fatos. E entre aclamações chegaram às portas de Avis, onde se erguiam grandes arcos triunfais; e aí desmontaram todos os seus cavalos, excepto o rei, a princesa D. Isabel e suas damas.
No meio de aclamações, dirigiram-se em seguida à Sé, de onde, depois da princesa ter feito uma breve oração e beijado o Santo Lenho, todos partiram em direcção ao paço, onde a rainha e o príncipe os esperavam.
Toda a cidade festejou durante vários dias, no meio de grandes folguedos e de muita alegria, o casamento principesco.
Também D. Manuel visitava com assiduidade o convento, pela grande devoção que tinha à Virgem, à qual fazia muitas e valiosas ofertas.
Segundo o Padre António Franco, foi no Convento do Espinheiro que este rei recebeu a notícia da descoberta da Índia por Vasco da Gama, o que não se pode ter como certo.
O Venturoso foi um dos monarcas que com mais frequência residiu em Évora; e por isso, quando da morte de sua filha D. Maria, foi esta sepultada no Espinheiro, o mesmo acontecendo à Infanta D. Beatriz e ao Príncipe D. Manuel, filhos de D. João III e de D. Catarina de Áustria. Foram trasladados para o Mosteiro de Belém, em 1582, por ordem de Filipe II.
D. Teotónio de Bragança, arcebispo de Évora, foi no dia oito de Dezembro ao convento de Nossa Senhora do Espinheiro, acompanhado por altos dignatários e recolheu os ossos dos infantes, colocando-os numa urna especial. Dirigiram-se à Sé, donde o cortejo fúnebre seguiu para o Mosteiro de Belém.
D. João III, como seu pai e seus antecessores, ia com frequência ao Espinheiro. Esta sua predilecção pelo convento levou-o a conceder-lhe vários privilégios, a confirmar-lhe outros e a escolhê-lo para panteão de seus filhos.
D. Sebastião ia muitas vezes de Évora ao Espinheiro a pé, e fazia a vida dos frades, assistindo aos seus ofícios e às práticas no refeitório e dormindo numa simples cela. Confessava-se este rei ao seu grande amigo Frei Álvaro de Olivença, e por isso mandou construir uma pequena ermida, junto da capela-mor, onde também se recolhia em oração.
A capela de Garcia de Resende, que se encontra na cerca, era rodeada por um belo jardim cheio de flores, que se prolongava até uma capelinha muito pequena, onde havia uma imagem de S. Jerónimo; também ali se confessava D. Sebastião frequentemente.
Gostava tanto do convento, este desventurado rei, que mandou erguer ali uma praça de touros, onde se faziam corridas, indo o próprio monarca algumas vezes tourear. A estas festas nunca deixavam de assistir os frades e muitas vezes o Cardeal-Arcebispo D. Henrique, por especial convite.
O primeiro arcebispo de Évora – o Cardeal Infante D. Henrique, celebrou a sua Missa Nova no convento e ofereceu os preciosos paramentos, que nesse dia solene usou, à Virgem.
Ainda pertencendo à casa de Avis, queremos destacar a Duquesa de Borgonha D. Isabel, que apesar de viver na Flandres, para onde partiu em 1429 e onde faleceu em 1472, mandou por várias vezes esmolas ao Convento, que rezava em sua intenção uma missa todos os anos em acção de graças.
Também alguns monarcas estrangeiros tinham devoção à Nossa Senhora do Espinheiro; e por esse motivo quando Filipe II se tornou rei de Portugal, foi este o primeiro convento da ordem de S. Jerónimo, que visitou e onde se hospedou.
Sendo grande a fama do convento, quando a este rei falavam de qualquer fidalgo português, acrescentava sempre que, com toda a certeza, os seus antepassados estavam sepultados no Espinheiro.
Em Maio de 1663 sai D. João de Áustria, filho bastardo de Filipe IV, com um grande exército de Badajoz. Tendo sido informados, os oficiais portugueses reuniram-se e concluíram que o fim do exército espanhol não era tomar uma cidade fronteiriça, mas sim caminhar para o interior. Resolveram, portanto, reforçar as defesas de Évora; e D. Sancho Manuel, conde de Vila Flor, com suas tropas, a que se juntaram as do Conde de Schomberg, foi para Estremoz.
Tendo no entanto, D. João de Áustria desistido de tomar Estremoz, dirigiu-se para Évora, escolhendo para seu quartel-general, o Convento de Nossa Senhora do Espinheiro. Apesar de reforçada, a guarnição da cidade era insuficiente para enfrentar o grande exército espanhol, o que, aliado às diligências internas entre o governador, que fora demitido, e o que lhe sucedeu, contribuiu para que os espanhóis fossem tomando terreno; e, depois do cerco de alguns dias, Évora capitulava. Mas a vitória dos portugueses não se fez esperar; e a oito de Junho, D. João de Áustria foi derrotado na Batalha do Ameixial.
D. João V visitou este convento numa sexta-feira de 1729, onde ouviu missa; e no dia seguinte também aí se deslocou a rainha D. Maria Ana de Áustria.
É de concluir, em parte, que, e em virtude da grande amizade da coroa por este convento, toda a nobreza ali acorria, levada por uma grande devoção pela Virgem e também pela santidade dos frades, oferecendo-lhe grandes dádivas e escolhendo a igreja para sepultura.
Dos que ali foram sepultados destacaremos:
D. Vasco Perdigão, bispo de Évora, fundador dos conventos de Santa Clara e Nossa Senhora do Espinheiro, que não querendo receber neste último o título de padroeiro, foi sepultado fora da capela-mor, deixando o padroado a quem oferecesse grandes rendas ao mosteiro.
Além dos já mencionados condes de Basto, D. Diogo de Castro e sua mulher D. Maria de Távora e D. Lourenço Pires de Castro e D. Violante de Lencastre, jazem no Espinheiro, entre outros, Fernão da Silveira, coudel-mor do reino e sua mulher D. Isabel Henriques; o filho destes, Francisco da Silveira, que fazia parte do concelho do rei e era também coudel-mor, e D. Margarida de Noronha, sua mulher; Jorge da Silveira, que também pertencia ao concelho do rei e D. Margarida Furtado de Mendonça; Vasco da Silveira, filho dos anteriores, e sua mulher, D. Leonor; D. Isabel Cerveira, falecida em 1488; António da Silveira, falecido em 1530, e D. Genebra de Brito; Diogo de Sepúlveda; D. Isabel de Noronha e sua irmã D. Cecília; D. Garcia de Meneses que fazia parte do conselho do rei D. Manuel e lutou em Tânger; D. Duarte de Meneses; D. Fernando de Meneses, filho dos condes de Viana, sua mulher D. Isabel de Castro e seus filhos, D. Diogo e D: Pedro; Gonçalo de Sousa da Fonseca, sepultado em 1587, e sua mulher, D. Brites de Távora; D. Isabel de Noronha, esposa de Nuno Vaz de Castelo Branco; e muitos mais, referidos em minucioso trabalho por Anselmo Braancamp Freire nas “Sepulturas do Espinheiro”
Em consequência da grande devoção que se tinha pela Virgem do Espinheiro, houve várias damas nobres que foram aias da Senhora, tais como: D. Isabel e D. Cecília de Noronha e D. Maria de Castro.
D. Isabel de Mendonça, a Marquesa de Ferreira, a Condessa do Vimioso, D. Filipa de Mendonça e D. Madalena de Mendonça ofereceram à Virgem, entre outras dádivas, os vestidos de noivas.
A Condessa de Basto, D. Maria de Távora, com suas sete filhas, vestia a imagem com os ricos fatos, que lhe haviam dado, dois dias antes da festa em honra da Nossa Senhora.
Dentre todos estes nomes ilustres queremos destacar Garcia de Resende, o grande poeta e cronista do século XVI, que escolheu este convento para sua sepultura, tendo mandado construir uma bela capela na cerca, dedicada a Santa Maria de Agosto.
A capela está profanada desde o século XVIII, chegando mesmo nessa altura a ser transformada pelos frades, talvez insensíveis à beleza de tal jóia, em pocilga de porcos.
A pedra que cobre a sepultura de Garcia de Resende, e em que já se pode observar o alvorecer da Renascença, foi em tempos vendida por 4$800 réis para servir de mesa de cozinha. Alguns anos mais tarde voltou ao seu antigo lugar.
A profanação foi tanta que os ossos do poeta foram recolhidos carinhosamente, em 1865, pelo professor de latim do Liceu de Évora, Manuel Martiniano Marrecos, e depositados na Biblioteca daquela cidade, onde se perderam.
Apreciando em conjunto a presença do convento de Nossa Senhora do Espinheiro na história portuguesa, verificamos, não sem alguma emoção, que aquelas pedras que ainda hoje nos contemplam na solidão da planície, viram desfilar muitas personagens ilustres e testemunharam os anseios e o comportamento de muitos que nos precederam. Reis, príncipes, prelados, grandes senhores e grandes damas da corte, pela sua devoção e generosidade, fizeram do convento um centro de irradiação e de refúgio, pelo que o podemos considerar indissoluvelmente ligado não só à cidade de Évora, mas também e com maior amplitude à própria vida da Corte, num período bastante longo cujos limites já concretamente assinalámos.
Foi este convento construído no reinado de D. Afonso V, que logo começou a frequentá-lo.
Quando da expedição a Arzila fez o Africano uma promessa à Senhora do Espinheiro, para que ajudasse as armas portuguesas no combate; e, no caso de sair vitorioso, oferecia-lhe uma estátua de prata, em que estaria representado, a cavalo e vestido com uma armadura branca. Conquistada a praça, cumpriu D. Afonso V o voto.
D. João II, tendo herdado de seu pai a grande devoção pela Senhora do Espinheiro, sempre que a corte estava em Évora, ia com frequência ao convento, chegando até a pernoitar na hospedaria, que mandara construir junto da igreja e onde tinha para si uma tribuna. Neste convento reuniu el-Rei as Cortes em 1481.
Quando o rei pernoitava no convento, pedia ao sacristão que lhe levasse um pequeno cofre com silícios e livros espirituais e, do qual só ele possuía a chave.
Fechava-se então na igreja até de madrugada, passando a noite em vigília, diante da Senhora, martirizando-se e penitenciando-se, ao mesmo tempo que pedia pelo seu Reino e por sua família.
Numa noite de calor, enquanto o Rei permanecia na igreja, subiu o sacristão a um dos terraços para tomar um pouco de fresco, quando ouviu vozes no claustro. Ficando surpreendido por naquela hora ali haver alguém a falar. Pôs-se à escuta e, através de uma fresta, percebeu que se tratava de fidalgos a prepararem uma conspiração contra D. João II. Ficou admirado o auxiliar com o que ouviu e, quando de manhã o Rei lhe mandou abrir a porta da igreja, relatou o que presenciara.
Faziam parte da conspiração, D. Fernando de Meneses, com os cúmplices D. Fernando da Silveira, Álvaro de Ataíde, Guterres Coutinho, Pedro de Ataíde, Pedro de Albuquerque e D. Garcia de Meneses, como nos conta o Padre António Franco.
Em 1490 reuniu D. João II as Cortes em Évora para pedir auxílio para o casamento do seu filho D. Afonso, com a Princesa D. Isabel, filha dos reis católicos.
Mandou el-rei uma brilhante embaixada a Sevilha, onde estava a corte castelhana, para tratar da boda, tendo o embaixador Fernando da Silveira, recebido a princesa em nome de D. Afonso. Quando chegou a nova a Évora, onde então a corte se encontrava, houve grande alegria.
D. Isabel deixou Espanha em 1490, com direcção a Portugal, onde entrou por Badajoz. No Caia, esperavam a Princesa D. Manuel, duque de Beja e D. Afonso, Bispo de Évora, além de muitas outras pessoas ilustres. Ficou nessa noite em Elvas, partindo no dia seguinte para Estremoz, onde, de surpresa, lhe apareceram o rei D. João II e o Príncipe.
No dia seguinte partiram o rei D. Afonso para Évora, seguindo um pouco mais tarde, a princesa acompanhada pelos altos dignatários da corte, que haviam ido esperá-la à fronteira. Dirigiram-se para o Convento de Nossa Senhora do Espinheiro, onde tudo estava ricamente preparado para receber tão ilustre visitante.
No outro dia, os reis acompanhados pelo herdeiro do trono e pela corte foram ao Convento onde a rainha viu a bela princesa. Encaminharam-se em seguida para a igreja, sendo os príncipes abençoados pelo arcebispo de Braga, cerimónia a que se seguiu missa pontifical. No fim da cerimónia, D. Isabel retirou-se para os seus aposentos e D. João II com toda a comitiva regressou a Évora.
Nos dias que precederam a entrada solene da princesa na cidade, foi visitada por D. João II e por D. Afonso. Contam antigas lendas que «antes d’ella entrar na cidade, ali nas casa do mosteiro, onde posava, teve o príncipe ajuntamento com ela; o que de muitos foi estranhado por ser em casa de Nossa Senhora, e de tanta devoção» Acrescenta-se que, nessa mesma noite, caiu uma ameia da igreja, junto do aposento onde os príncipes se encontravam, o que levou o vulgo a pensar que se tratara de castigo divino pelo acto pecaminoso cometido.
Num domingo de Novembro, mais propriamente a vinte e sete, do mesmo ano de 1490, entrou solenemente a princesa em Évora.
Dirigiu-se D. João II com grande pompa ao Convento do Espinheiro acompanhado pelo clero, nobres e corte. Abriam o cortejo trombetas, tambores, arautos, reis de armas, passavantes e muitos mais dignatários, todos muito bem vestidos e montados em belos ginetes.
O rei, ricamente vestido à francesa, cavalgava num cavalo ruço, seguido pelos seus pajens e toda a fidalguia. Pelo caminho, da cidade até ao mosteiro, todo o povo nos seus trajes domingueiros assistia a tão esplendoroso desfile.
Mal chegou ao Espinheiro, saiu logo a princesa, ricamente ataviada, que montou uma mula, seguida por suas damas e numeroso séquito castelhano. Pôs-se então o cortejo a caminho de Évora - coisa tão bela que poucas vezes fora vista, devido ao deslumbramento colorido dos ricos fatos. E entre aclamações chegaram às portas de Avis, onde se erguiam grandes arcos triunfais; e aí desmontaram todos os seus cavalos, excepto o rei, a princesa D. Isabel e suas damas.
No meio de aclamações, dirigiram-se em seguida à Sé, de onde, depois da princesa ter feito uma breve oração e beijado o Santo Lenho, todos partiram em direcção ao paço, onde a rainha e o príncipe os esperavam.
Toda a cidade festejou durante vários dias, no meio de grandes folguedos e de muita alegria, o casamento principesco.
Também D. Manuel visitava com assiduidade o convento, pela grande devoção que tinha à Virgem, à qual fazia muitas e valiosas ofertas.
Segundo o Padre António Franco, foi no Convento do Espinheiro que este rei recebeu a notícia da descoberta da Índia por Vasco da Gama, o que não se pode ter como certo.
O Venturoso foi um dos monarcas que com mais frequência residiu em Évora; e por isso, quando da morte de sua filha D. Maria, foi esta sepultada no Espinheiro, o mesmo acontecendo à Infanta D. Beatriz e ao Príncipe D. Manuel, filhos de D. João III e de D. Catarina de Áustria. Foram trasladados para o Mosteiro de Belém, em 1582, por ordem de Filipe II.
D. Teotónio de Bragança, arcebispo de Évora, foi no dia oito de Dezembro ao convento de Nossa Senhora do Espinheiro, acompanhado por altos dignatários e recolheu os ossos dos infantes, colocando-os numa urna especial. Dirigiram-se à Sé, donde o cortejo fúnebre seguiu para o Mosteiro de Belém.
D. João III, como seu pai e seus antecessores, ia com frequência ao Espinheiro. Esta sua predilecção pelo convento levou-o a conceder-lhe vários privilégios, a confirmar-lhe outros e a escolhê-lo para panteão de seus filhos.
D. Sebastião ia muitas vezes de Évora ao Espinheiro a pé, e fazia a vida dos frades, assistindo aos seus ofícios e às práticas no refeitório e dormindo numa simples cela. Confessava-se este rei ao seu grande amigo Frei Álvaro de Olivença, e por isso mandou construir uma pequena ermida, junto da capela-mor, onde também se recolhia em oração.
A capela de Garcia de Resende, que se encontra na cerca, era rodeada por um belo jardim cheio de flores, que se prolongava até uma capelinha muito pequena, onde havia uma imagem de S. Jerónimo; também ali se confessava D. Sebastião frequentemente.
Gostava tanto do convento, este desventurado rei, que mandou erguer ali uma praça de touros, onde se faziam corridas, indo o próprio monarca algumas vezes tourear. A estas festas nunca deixavam de assistir os frades e muitas vezes o Cardeal-Arcebispo D. Henrique, por especial convite.
O primeiro arcebispo de Évora – o Cardeal Infante D. Henrique, celebrou a sua Missa Nova no convento e ofereceu os preciosos paramentos, que nesse dia solene usou, à Virgem.
Ainda pertencendo à casa de Avis, queremos destacar a Duquesa de Borgonha D. Isabel, que apesar de viver na Flandres, para onde partiu em 1429 e onde faleceu em 1472, mandou por várias vezes esmolas ao Convento, que rezava em sua intenção uma missa todos os anos em acção de graças.
Também alguns monarcas estrangeiros tinham devoção à Nossa Senhora do Espinheiro; e por esse motivo quando Filipe II se tornou rei de Portugal, foi este o primeiro convento da ordem de S. Jerónimo, que visitou e onde se hospedou.
Sendo grande a fama do convento, quando a este rei falavam de qualquer fidalgo português, acrescentava sempre que, com toda a certeza, os seus antepassados estavam sepultados no Espinheiro.
Em Maio de 1663 sai D. João de Áustria, filho bastardo de Filipe IV, com um grande exército de Badajoz. Tendo sido informados, os oficiais portugueses reuniram-se e concluíram que o fim do exército espanhol não era tomar uma cidade fronteiriça, mas sim caminhar para o interior. Resolveram, portanto, reforçar as defesas de Évora; e D. Sancho Manuel, conde de Vila Flor, com suas tropas, a que se juntaram as do Conde de Schomberg, foi para Estremoz.
Tendo no entanto, D. João de Áustria desistido de tomar Estremoz, dirigiu-se para Évora, escolhendo para seu quartel-general, o Convento de Nossa Senhora do Espinheiro. Apesar de reforçada, a guarnição da cidade era insuficiente para enfrentar o grande exército espanhol, o que, aliado às diligências internas entre o governador, que fora demitido, e o que lhe sucedeu, contribuiu para que os espanhóis fossem tomando terreno; e, depois do cerco de alguns dias, Évora capitulava. Mas a vitória dos portugueses não se fez esperar; e a oito de Junho, D. João de Áustria foi derrotado na Batalha do Ameixial.
D. João V visitou este convento numa sexta-feira de 1729, onde ouviu missa; e no dia seguinte também aí se deslocou a rainha D. Maria Ana de Áustria.
É de concluir, em parte, que, e em virtude da grande amizade da coroa por este convento, toda a nobreza ali acorria, levada por uma grande devoção pela Virgem e também pela santidade dos frades, oferecendo-lhe grandes dádivas e escolhendo a igreja para sepultura.
Dos que ali foram sepultados destacaremos:
D. Vasco Perdigão, bispo de Évora, fundador dos conventos de Santa Clara e Nossa Senhora do Espinheiro, que não querendo receber neste último o título de padroeiro, foi sepultado fora da capela-mor, deixando o padroado a quem oferecesse grandes rendas ao mosteiro.
Além dos já mencionados condes de Basto, D. Diogo de Castro e sua mulher D. Maria de Távora e D. Lourenço Pires de Castro e D. Violante de Lencastre, jazem no Espinheiro, entre outros, Fernão da Silveira, coudel-mor do reino e sua mulher D. Isabel Henriques; o filho destes, Francisco da Silveira, que fazia parte do concelho do rei e era também coudel-mor, e D. Margarida de Noronha, sua mulher; Jorge da Silveira, que também pertencia ao concelho do rei e D. Margarida Furtado de Mendonça; Vasco da Silveira, filho dos anteriores, e sua mulher, D. Leonor; D. Isabel Cerveira, falecida em 1488; António da Silveira, falecido em 1530, e D. Genebra de Brito; Diogo de Sepúlveda; D. Isabel de Noronha e sua irmã D. Cecília; D. Garcia de Meneses que fazia parte do conselho do rei D. Manuel e lutou em Tânger; D. Duarte de Meneses; D. Fernando de Meneses, filho dos condes de Viana, sua mulher D. Isabel de Castro e seus filhos, D. Diogo e D: Pedro; Gonçalo de Sousa da Fonseca, sepultado em 1587, e sua mulher, D. Brites de Távora; D. Isabel de Noronha, esposa de Nuno Vaz de Castelo Branco; e muitos mais, referidos em minucioso trabalho por Anselmo Braancamp Freire nas “Sepulturas do Espinheiro”
Em consequência da grande devoção que se tinha pela Virgem do Espinheiro, houve várias damas nobres que foram aias da Senhora, tais como: D. Isabel e D. Cecília de Noronha e D. Maria de Castro.
D. Isabel de Mendonça, a Marquesa de Ferreira, a Condessa do Vimioso, D. Filipa de Mendonça e D. Madalena de Mendonça ofereceram à Virgem, entre outras dádivas, os vestidos de noivas.
A Condessa de Basto, D. Maria de Távora, com suas sete filhas, vestia a imagem com os ricos fatos, que lhe haviam dado, dois dias antes da festa em honra da Nossa Senhora.
Dentre todos estes nomes ilustres queremos destacar Garcia de Resende, o grande poeta e cronista do século XVI, que escolheu este convento para sua sepultura, tendo mandado construir uma bela capela na cerca, dedicada a Santa Maria de Agosto.
A capela está profanada desde o século XVIII, chegando mesmo nessa altura a ser transformada pelos frades, talvez insensíveis à beleza de tal jóia, em pocilga de porcos.
A pedra que cobre a sepultura de Garcia de Resende, e em que já se pode observar o alvorecer da Renascença, foi em tempos vendida por 4$800 réis para servir de mesa de cozinha. Alguns anos mais tarde voltou ao seu antigo lugar.
A profanação foi tanta que os ossos do poeta foram recolhidos carinhosamente, em 1865, pelo professor de latim do Liceu de Évora, Manuel Martiniano Marrecos, e depositados na Biblioteca daquela cidade, onde se perderam.
Apreciando em conjunto a presença do convento de Nossa Senhora do Espinheiro na história portuguesa, verificamos, não sem alguma emoção, que aquelas pedras que ainda hoje nos contemplam na solidão da planície, viram desfilar muitas personagens ilustres e testemunharam os anseios e o comportamento de muitos que nos precederam. Reis, príncipes, prelados, grandes senhores e grandes damas da corte, pela sua devoção e generosidade, fizeram do convento um centro de irradiação e de refúgio, pelo que o podemos considerar indissoluvelmente ligado não só à cidade de Évora, mas também e com maior amplitude à própria vida da Corte, num período bastante longo cujos limites já concretamente assinalámos.
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