"Que o Senhor vos ilumine, abençoe e vos proteja."

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

VERA CRUZ DE MARMELAR E A SUA RELIQUIA DO SANTO LENHO...


Igreja de Vera Cruz de Marmelar


As origens da fundação da Igreja – Mosteiro de Vera Cruz de Marmelar são bem remotas, uma vez que o actual templo terá sido construído sobre anteriores fundações.

A freguesia de Vera Cruz, anteriormente designada Marmelar ou pelo menos conhecida como o lugar de S. Pedro de Marmelar em documentos do Século XIII, é uma povoação bem antiga e histórica, tendo este Monumento acompanhado os seus passos ao longo dos séculos.

Segundo diversos estudos um anterior templo visigótico ou moçárabe existiria previamente a esta construção, da qual ainda existem vestígios. Em 1240, os cavaleiros da Ordem dos Hospitalários fundaram a aldeia e terão promovido a conversão do edifício cristão em Mosteiro.

A estrutura do templo que chegou até hoje data genericamente do período gótico, embora tenha sofrido obras posteriores, designadamente no século XVII.

A Igreja de Vera Cruz de Marmelar ficou ainda na história por guardar uma importante relíquia: uma parcela da cruz na qual alegadamente Jesus Cristo foi crucificado, trata-se da famosa relíquia do Santo Lenho, provavelmente recolhida na Batalha do Salado, assim fazendo com que Marmelar se instituísse como um dos quatro templos do reino onde a memória dessa gloriosa batalha fosse evocada (Sé de Évora, Sé de Lisboa e Matriz de Santiago do Cacém).

Vera Cruz de Marmelar

"É uma pequena aldeia no coração do Alentejo, a poucos quilómetros de Portel. Casas brancas, a igreja no alto, um velho mosteiro em ruínas, uma belíssima vista sobre a planície alentejana. Como tantas outras na zona, tem uma população envelhecida e parece que se perdeu no tempo. E, contudo, tem uma história muito curiosa. A igreja guarda uma Relíquia que todos os anos saem pelas ruas em procissão: o Santo Lenho. Acreditam os fiéis que se trata de um pequeno pedaço da cruz de Cristo. E que faz milagres: cura sobretudo os males do espírito. Por isso abundam por lá histórias de endemoinhados, homens, mulheres, crianças, até, que chegaram doentes e saíram curados, depois de verdadeiros exorcismos feiros na igreja.

Também há outras histórias, essas nas povoações à volta, sobre as pessoas de Vera Cruz e Marmelar, que têm, diz-se, uma feitio especial e uma maneira, muito própria, de encarar a vida."

Reliquia do Santo Lenho

HISTÓRIA: Durante a idade média, foi trazido da Terra Santa um pedaço do Santo Lenho, que se destinava à Sé de Évora (onde aliás se encontra actualmente uma relíquia com idênticas características). Diz a lenda que a mula onde o Santo Lenho era transportado para em Vera Cruz, recusando a ir mais adiante e ali vindo a morrer. Logo se produziram uma série de milagres, brotando da terra uma fonte tia por santa e nascendo um pinheiro no local onde o arneiro espetou a vara com que picava a mula. O sinal era evidente: a relíquia devia ficar naquele local.


Ora uma relíquia de tão grande importância é instrumento conhecido pela sua eficácia no âmbito do ritual católico, pelo que desde logo ali se começaram a realizar exorcismos.

À época da investigação realizada pelo GIFI, os sacerdotes locais eram compelidos a manter a tradição, ainda que contra sua vontade, pelo que ao local acorriam numerosos forasteiros, em especial após a missa de Domingo, procurando alívio para os seus tormentos espirituais.

2- Possessão diabólica e exorcismos

A tradição católica, de forma similar ao que acontece na doutrina de outras religiões, admite a existência de um espírito maligno (quase divino), o Diabo, que conta com uma legião de auxiliares (quase anjos), os demónios.

A presença do ente maligno, propriamente dito, nestas situações é considerada extremamente rara. São especialmente os demónios, quem tem o poder de atormentar os homens, quer pela tentação diabólica (estímulo demoníaco sobre o homem), quer pela infestação local ou pessoal (influência indirecta sobre o homem ou sobre as coisas inanimadas, animais e vegetais), quer pela a possessão diabólica, situação que aqui especialmente nos interessa.

Esse último grau, o mais grave, implica que alguém é tomado espiritualmente e de forma profunda pelo demónio, que faz da sua vítima instrumento.

O exorcismo é um ritual que tem em vista, de forma preventiva (por exemplo, como parte integrante do baptismo) ou curativa (o exorcismo em sentido estrito) proteger o homem da possessão diabólica.

O rito segue regras estritas constantes do "Ritual Romano", utilizando o sacerdote orações, água benta, objectos benditos como o Agnus Dei e, claro, relíquias como o Santo Lenho.

Durante o ritual, assim que consegue forçar o demónio a manifestar claramente a sua presença na pessoa possuída, o sacerdote exorta-o a libertar aquele corpo, reforçando esse comando pelo uso sucessivo de instrumentos como os acima referidos.

Importa dizer que um sacerdote quando é ordenado recebe a capacidade para realizar exorcismos, sendo que normalmente é necessário obter uma autorização do episcopado competente para que o exorcismo seja licitamente efectuado, o que normalmente implica uma investigação prévia que afaste as explicações médicas ou psicológicas para a sintomatologia manifestada pela pessoa em causa.

Em Vera Cruz, no tempo do Padre Silvério, pároco local à data da investigação, os exorcismos eram totalmente públicos, o que permitia o acesso a jornalistas e investigadores.

Após a sua morte, foi clara a política da Igreja no sentido de afastar o público, tendo-nos sido dito que já não se realizavam exorcismos no local, facto amplamente desmentido por informações a que foi possível ter acesso.

Os rituais a que assistimos apresentavam algumas particularidades, designadamente porque não havia uma verdadeira análise prévia de cada caso, muito embora o Padre Silvério colocasse sempre algumas perguntas ao suposto possesso, sendo vulgar insistir com as pessoas para consultarem um médico. Em todo o caso, tanto eram submetidos ao ritual aquelas pessoas que, sem quaisquer sintomas ali iam como quem participa na comunhão, como manifestos doentes psíquicos e, por fim, aqueles casos mais estranhos que nos deixaram dúvidas sérias em termos de qualificação.

De facto, se bem que a explicação psicológica seja normalmente fácil de descortinar, ainda que sem a realização de um estudo rigoroso e directo por parte de um psicólogo, a verdade é que num caso ou noutro os possessos apresentaram fenomenologia difícil de entender.

O exemplo mais forte é o de uma rapariga de cerca de dez anos que se manifestou ao longo de horas de forma brutal, gritando, contorcendo-se, tentando fugir da igreja, o que implicaria a sua qualificação como um caso de histeria. No entanto, a histeria é extremamente invulgar em crianças tão pequenas, em especial com a gravidade que decorria das atitudes manifestadas neste caso.

É um facto que não se assistiu a qualquer fenómeno qualificável como claramente insólito, pelo que fica essencialmente o registo de um facto sócio-religioso muito perturbante.

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