"Que o Senhor vos ilumine, abençoe e vos proteja."

terça-feira, 17 de agosto de 2010

E se a vida fosse só poesia?

Linda ceifeira do monte
Mataste a sede que eu tinha,
Quando me deste na fonte
A boca...cantarinha
--
A quadra que mais me encanta
É a que em boa verdade
Me faz um nó na garganta
E fica sempre em metade
--
Grão de trigo tu me ensinas
Nessa tua singeleza,
Que nas coisas pequeninas
É que a vida tem grandeza
--
Os meus olhos foram bailar
No redondo dos teus seios
Pediram para lá ficar
Com pena deles...deixei-os
--
Deus faz as almas aos pares,
Fez a tua fez a minha...
E um coração pra me dares
Em troca de um outros que eu tinha
--
Rosa ao peito fica bem
A quem ama de verdade
Mas a rosa sempre tem
Os espinhos da saudade
--
No mar da vida se chora...
Choro é soluço ao vento...
A chorar se ri por fora
A rir se chora por dentro
--
I
A maior das minhas penas
Em tantas penas que tive
É crer que não vale a pena
Toda a pena que se vive
II
Relógio sempre serás
Um contador de mentiras;
Contas as horas que dás
E não contas as que tiras
III
Meu amor comprar quiseste
Quando pensei ofertá-lo
Meu amor não está à venda
Mas de graça vem buscá-lo
IV
O que não fazem meus braços
Podem meus olhos fazer
Levar-te centos de abraços
Centos de abraços trazer
V
O relógio e o coração
Batem à mesma medida
- Um marca a vida do tempo
O outro, o tempo da vida
VI
Caminha direito nos espinhos
Que a vida sempre foi cara
Se segues muitos caminhos
Vais-te perder na seara
VII
Como o vinho em vários graus
São os homens, em verdade;
O tempo que azeda os maus
Apura os de qualidade
VIII
A pessoa que é capaz,
De ganhar o pão que come,
Trabalha a favor da paz,
Faz a guerra contra a fome
IX
Enquanto vivi não te vi,
Passei por ti sempre a correr,
- Agora que já morri,
Ando morto por te vêr.
X
Sobra o tempo a quem não tem
Maneira de’o ocupar
Quem mo disse foi alguém
Com tempo para pensar
XI
Raramente o bem que temos
Aos nossos olhos ressalta
Porque só o conhecemos
Na altura que nos faz falta
XII
Linda pró baile vieste
Com muita alegria dançaste
Das promessas nada deste
Em troca tudo levaste
XIII
Ai se a mentira falasse,
Queimasse a língua a quem mente
Cheirava a carne queimada
Na boca de muita gente
XIV
O sol é a luz do dia
A da noite é o luar
A que mais brilho irradia
É a luz do teu olhar
XV
As mágoas das nossas almas
São como as águas profundas
Quanto mais tristes mais calmas
Quanto mais calmas mais fundas
XVI
O que será a saudade
Passado feito presente
Nunca envelhece na idade
E tem a idade da gente
XVII
Eu vejo tanta vaidade
Por toda a parte onde vou
Que ás vezes dou graças a Deus
De ser assim como sou
XVIII
Queria voltar a nascer
Depois de já ter vivido
Para voltar a não ser
Aquilo que podia ter sido
XIX
Em cada sonho consigo
- Por milagre ou por magia
Ter-te na cama comigo
Sem te ter por companhia
XX
Nada fui, nada serei
Continuo a nada ser
Nada sou enquanto vivo
Serei nada quando morrer
XXI
Quer procura quer achar
Quem mordisca também trinca
Foge-me da minha frente
Com o amor não se brinca
XXII
Porquê esconder o desejo
De querer dar o que não dou
Só tem saudades de um beijo
Quem algum dia beijou
XXIII
Meu coração, é um velho barco
Cansado de tanto navegar
Quando as saudades eu embarco
Vai de lágrimas a transbordar
XXIV
Tens nos cabelos trigais
Nos olhos a cor de uma amora
No teu seio... Vejo dois pardais
Voando pela blusa fora

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