Ai de vós hipócritas! (Mt 23,23)
Todos nós temos mais ou menos uma ideia do que significa ser hipócrita. Contudo, quando olhamos para a língua grega, na qual o texto do Evangelho de São Mateus foi escrito na sua origem, percebemos que afinal ser hipócrita significava um jogo de actores, uma expressão teatral. O hipócrita era aquele que colocava uma máscara para desempenhar um papel, para dar corpo e cara a um personagem.Diante desta realidade da cultura grega e da circunstância em que Jesus fala aos fariseus e escribas da lei percebemos a alteração do tom de voz de Jesus, a reprimenda feroz face ao que aqueles homens viviam e convidavam os outros a viver. A crítica e acusação de Jesus tem presente e parte desse pressuposto fundamental de que fomos feitos para o face a face, para nos olharmos nos olhos uns dos outros, para contemplarmos Deus face a face. E portanto, quando colocamos uma máscara, quando assumimos o papel de hipócritas, estamos a inviabilizar a nossa própria realização, a negar a nossa própria essência natural, o objectivo último da nossa existência.A acusação de Jesus aos hipócritas é assim um apelo premente a que deixemos as máscaras, a que apresentemos o nosso rosto, mais belo ou mais marcado pelas feridas da vida, mas que verdadeiramente diz quem somos e nos revela ao outro como imagem de Deus.E na medida em que vivermos também face a face com Deus, sem máscaras diante de Deus, o nosso rosto poderá ser uma fonte de luz, uma fonte de paz para aqueles que se encontram connosco e nos olham, pois a nossa face espelhará a luz interior que apreendemos do face a face com Deus.
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