Bruxas, Feiticeiras e Lobisomens. Aparições, almas do outro mundo, fantasmas e
Luzinhas nocturnas...
Medos
Gravultos, sombras e avejões.
Uma
grande maioria do povo das nossas aldeias ainda acredita em bruxas, feiticeiras
e lobisomens....
Segundo
as crendices populares, as bruxas e as feiticeiras são mulheres que,
comunicando com o diabo e servindo-se de certas rezas, adquirem o poder de
fazer mal a outras pessoas, com os mais variados objectivos.
O povo das aldeias, contudo, estabelece uma
certa diferença entre uma bruxa e uma feiticeira. A primeira nasce logo com
esse fado, não precisa de aprender; a segunda tem de aprender a sua arte, no
que demora cerca de sete semanas. A feiticeira exerce o seu poder dando
maus-olhados. A bruxa tem um mais vasto campo de acção.
As
bruxas distinguem das feiticeiras por poderem transformar-se em animais... Cães,
gatos, burros – e até em seres invisíveis.
As
bruxas – segundo se acredita – costumam reunir-se, altas horas da noite, nas
encruzilhadas das estradas ou das ruas e ali cantam e bailam...É nestas
reuniões que elas estabelecem contacto com o demónio, quase sempre presente em
tais sessões, transformado em cão ou em gato preto…durante as sessões, ora se
ouvem estridentes gargalhadas ora gritos sinistro e arripiantes.
As
bruxas entram em casa pelo buraco da fechadura e são a causa das mais graves
doenças de que sofre a género humano – daquelas com que os médicos não atinam.
As bruxas perseguem, de preferência,
as inocentes e indefesas crianças: elas divertem-se em separar as crianças das
mães, colocam-nas no chão, em sarapilheiras, ou em qualquer outro sítio,
distante da cama em que estavam deitadas; mordem-nas e sugam-lhes o sangue,
fazem-lhes toda a sorte de malefícios que a imaginação popular inventa e nos
quais acredita respeitosa e plenamente.
Com tais tratos as crianças
tornam-se, pálidas, franzinas, raquíticas e enfezadas.
É frequente entre o nosso povo quando
uma criança adoece e começa a definhar a olhos vistos, sem encontrar
explicação, logo o mal é atribuído ao bruxedo.
Portanto,
não é novidade para ninguém que de entre todos os seres misteriosos admitidos
na imaginação popular, as bruxas ocupam, sem dúvida, o primeiro lugar.
É
assombroso e não tem limites, o poder que é atribuído às bruxas, ao passo que o
poder das feiticeiras quase se limita a dar olhados.
Às
terças e sextas-feiras – únicos dias para efectuar estas práticas – a aprendiza
é levada pela mestra para ir dançar a certas encruzilhadas, embora a família a
feche a sete chaves, de tão sinistra e misteriosa arte, ela tem que ter já o
poder de fugir pelo buraco da fechadura...em 14 sessões – a nova feiticeira
ficará mestra, sabendo deitar maus-olhados, fazendo esconjurações e toda a
espécie de malefícios que dizem respeito à sua arte.
- Os
lobisomens tal como as bruxas não aprendem, nasce já com todo o poder.
Segundo
o povo crê, quando um casal tem sete filhos, do mesmo sexo, o sétimo será
bruxo/a ou lobisomen, conforme o sexo.
Para
que tal não aconteça, rapariga ou rapaz nascido com este fadar, deve ter por madrinha
ou padrinho a irmã ou irmão mais velho, que sempre o deve tratar por
afilhado.
Enquanto
criança, o fadar não se declara – vive como qualquer alma cristã. É sempre, um
pobre diabo, magriço, escanzelado e pálido... Chegado a adolescente – e, pela
noite dentro, quando são horas de repouso – tem inicio a sua fadário: começa a
sentir uma grande uma enorme necessidade de se espojar. Sai de casa e quer
chova ou faça vento ou bom tempo, procurando um espojadoiro ate se transformar
em jumento. Se, em vez de procurar um espojadoiro, se meter num charco onde
tenha permanecido um porco, ou se roçar por um sítio onde se tenha deitado um
cão, é a forma destes animais que ele adquire. Corre em seguida por secas e
mecas, percorrendo caminhos e veredas escondidas, até que ao romper da manhã,
volta ao espojadoiro e readquire a sua forma natural de ser humano.
Se
durante essas loucas correrias o lobisomen for ferido por qualquer
criatura...perde-se o encanto e retoma imediatamente a forma humana, para não
mais voltar a ser lobisomen.
Infeliz,
porém, pouco poderá sobreviver esta quebra de encantamento: uma profunda
tristeza o invade, um mau estar o consome e a morte não demorará a pôr à sua
triste sina.
Almas do outro mundo, fantasmas e
luzinhas nocturnas
Tais
visões, segundo se acredita, aparecem a certos indivíduos, crentes em que vêm a
este mundo as almas daqueles que deixaram de existir, espíritos desinfelizes
que vagueiam no espaço, sem terem entrada no céu, quer porque em vida, deixaram
de cumprir certas promessas, quer porque não se penitenciaram das suas culpas
ou, após a morte, se lhes não rezaram orações, nem disseram missas pelo seu
eterno descanso.
Note-se
bem que estas aparições só são vistas por indivíduos que nelas acreditam porque
– diz o povo aos pobres espíritos (almas penadas ou almas errantes, cuja única
missão é pedirem orações para se purificarem).
Diz
o grande livro de São Cipriano
“Quando
vos aparecer uma visão não a esconjureis porque então ela vos amaldiçoará e vos
impedirá em todos os vossos negócios, e tudo vos correrá pelo torto; há que
recorrer à oração pelos bons espíritos e logo vos aliviareis.
A
leitura deste livro (infelizmente, tão conhecido das camadas populares, que o
guardam e veneram como coisa sagrada), tem contribuído para avivar a crença em
semelhantes práticas, espevitando a curiosidade mórbida das multidões, cada vez
mais ansiosas por desvendar os mistérios do Além, pelas chamadas ciências
ocultas.
No
mesmo livro fui encontrar um capítulo especial tratando de espíritos diabólicos
que infestam as casas com estrondos e remédio para os evitar.
Não
admira que com semelhante leitura e com o que a tradição oral vai transmitindo
de geraç em geraç a crença popular se encontra ainda muito espalhada pelas
nossas aldeias, como pelas vilas e até nas cidades. Em algumas delas, segundo
voz corrente – nelas aparecem fantasmas e outras aparições que pela noite
adiante, incomodam toda a vizinhança com estrondosos rumores...
Conta-se
até que determinada pessoa comprou, no nosso Alentejo, por baixo preço, uma
moradia que ninguém queria habitar “por nela aparecer um fantasma em figura de
velho, com aspecto escálido, rosto macilento, barba comprida, cabelos
arrepiados, mãos atadas com cadeias e grilhões que arrastava”... Essa pessoa
quando lhe apareceu semelhante visão, correpondendo à sua chamada, seguiu-a até
ao quintal da casa. E tendo a visão ali desaparecido, mandou a pessoa cavar a
terra no dia seguinte e nela encontrou um cadáver amarrado com cadeias e
grilhões, tal como lhe aparecera o fantasma. Dada a sepultura condigna ao corpo
encontrado, a aparição não mais tornou a incomodar a dita pessoa que
tranquilamente pode disfrutar a casa adquirida por irrisória quantia.
Como
este caso, referido no Livro de S. Cipriano, apontam-se, às dezenas, outros
ocorridos em muitas das nossas povoações.
A
propósito de cada aparição, o povo faz os mais absurdos comentários, e o
mistério com que são rodeados põe uma população inteira em alvoroço; todos
querem ver com os seus próprios olhos, observar, ouvir... No rosto de uns
transparece por vezes, a dúvida, a expectativa, o desejo de desvendar o
mistério. No de outros, há visíveis sinais de terror, de tragédia que não sabe
como evitar-se.
A
alma do outro mundo vai manifestar-se... Todos os presentes suspendem a
respiração... Já se ouvem os primeiros rumores no telhado... e os cabelos
começam a pôr-se em pé ou a gelar o sangue nas veias... O vento zune lá fora as
pedras fervem no telhado, as portas batem, os móveis mudam-se de um lugar para
o outro lugar – tudo isto ouvem e vem muitos dos espectadores.
Nestes
casos é preciso enfrentar a situação, vencer o tremor, e adquirir confiaça:
“Se és alma do outro mundo, eu te
requero que me digas quem és e o que queres, porque eu te farei se puder”.
Se
na aparição a pessoa reconhecer qualquer defunta pessoa de família – como
geralmente acontece, e isto porque as súplicas feitas nestas condições nunca
deixam de ser atendidas – só tem que dizer simplesmente:
Da parte de Deus te requero:
Diz o que queres!
E
assim, o espírito dos mortos fala...conta suas mágoas... diz o que devem fazer
os parentes, para que possa descansar o sono eterno do justos.
São
muitos os casos conhecidos na maioria das nossas povoações. Não vale a pena
estar aqui a narrá-los isoladamente, porque com mais ou menos pormenores, todos
eles vem dar ao mesmo, todos tem mesma origem, mesma causa, a mesma finalidade.
Como
vimos, nos casos aqui tratados, são os mortos que procuram os vivos para deles
obterem favores. Mas, ao que parece, também aos vivos é dado procurar os
mortos, requerer a sua presença, fala-lhes.
A
mesa de pé de galo... é a grande intermediária. Por ela e com ela se
estabelecem grandes conversações entre vivos e mortos.
Quem
nas nossas aldeias, não assistiu ao espectáculo de ver sentados em volta da
mesa de um só pé e tampo redondo, certo numero de pessoas, crentes em tal
mistificação, todos de mãos estendidas e com as palmas a tocar ligeiramente o
tampo da mesa, para que esta se incline para um lado ou para outro, dê uma ou
várias pancadas, conforme as respostas às perguntas que uma das pessoas faz ao
morto com quem deseja falar.
IREI FALAR NAS LUZINHAS NOCTURNAS, que aparecem aqui e além e vagueiam toda uma noite,
por esses campos e que não são mais que espíritos errantes, a cumprir seus
tristes fados. Recordam-se da criança que atrás falei...
Quando era-mos
vivos andávamos pelos caminhos, agora somos mortos andamos pelos barrancos.
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