"Que o Senhor vos ilumine, abençoe e vos proteja."

terça-feira, 15 de outubro de 2013

No Alentejo, antigamente era assim, e hoje como será ?

       
Bruxas, Feiticeiras e Lobisomens. Aparições, almas do outro mundo, fantasmas e Luzinhas nocturnas...

Medos Gravultos, sombras e avejões.

Uma grande maioria do povo das nossas aldeias ainda acredita em bruxas, feiticeiras e lobisomens....

Segundo as crendices populares, as bruxas e as feiticeiras são mulheres que, comunicando com o diabo e servindo-se de certas rezas, adquirem o poder de fazer mal a outras pessoas, com os mais variados objectivos.

 O povo das aldeias, contudo, estabelece uma certa diferença entre uma bruxa e uma feiticeira. A primeira nasce logo com esse fado, não precisa de aprender; a segunda tem de aprender a sua arte, no que demora cerca de sete semanas. A feiticeira exerce o seu poder dando maus-olhados. A bruxa tem um mais vasto campo de acção.

As bruxas distinguem das feiticeiras por poderem transformar-se em animais... Cães, gatos, burros – e até em seres invisíveis.

As bruxas – segundo se acredita – costumam reunir-se, altas horas da noite, nas encruzilhadas das estradas ou das ruas e ali cantam e bailam...É nestas reuniões que elas estabelecem contacto com o demónio, quase sempre presente em tais sessões, transformado em cão ou em gato preto…durante as sessões, ora se ouvem estridentes gargalhadas ora gritos sinistro e arripiantes.

As bruxas entram em casa pelo buraco da fechadura e são a causa das mais graves doenças de que sofre a género humano – daquelas com que os médicos não atinam.
As bruxas perseguem, de preferência, as inocentes e indefesas crianças: elas divertem-se em separar as crianças das mães, colocam-nas no chão, em sarapilheiras, ou em qualquer outro sítio, distante da cama em que estavam deitadas; mordem-nas e sugam-lhes o sangue, fazem-lhes toda a sorte de malefícios que a imaginação popular inventa e nos quais acredita respeitosa e plenamente.

Com tais tratos as crianças tornam-se, pálidas, franzinas, raquíticas e enfezadas.
É frequente entre o nosso povo quando uma criança adoece e começa a definhar a olhos vistos, sem encontrar explicação, logo o mal é atribuído ao bruxedo.

Portanto, não é novidade para ninguém que de entre todos os seres misteriosos admitidos na imaginação popular, as bruxas ocupam, sem dúvida, o primeiro lugar.

É assombroso e não tem limites, o poder que é atribuído às bruxas, ao passo que o poder das feiticeiras quase se limita a dar olhados.

Às terças e sextas-feiras – únicos dias para efectuar estas práticas – a aprendiza é levada pela mestra para ir dançar a certas encruzilhadas, embora a família a feche a sete chaves, de tão sinistra e misteriosa arte, ela tem que ter já o poder de fugir pelo buraco da fechadura...em 14 sessões – a nova feiticeira ficará mestra, sabendo deitar maus-olhados, fazendo esconjurações e toda a espécie de malefícios que dizem respeito à sua arte.

- Os lobisomens tal como as bruxas não aprendem, nasce já com todo o poder.
Segundo o povo crê, quando um casal tem sete filhos, do mesmo sexo, o sétimo será bruxo/a ou lobisomen, conforme o sexo.
Para que tal não aconteça, rapariga ou rapaz nascido com este fadar, deve ter por madrinha ou padrinho a irmã ou irmão mais velho, que sempre o deve tratar por afilhado.
Enquanto criança, o fadar não se declara – vive como qualquer alma cristã. É sempre, um pobre diabo, magriço, escanzelado e pálido... Chegado a adolescente – e, pela noite dentro, quando são horas de repouso – tem inicio a sua fadário: começa a sentir uma grande uma enorme necessidade de se espojar. Sai de casa e quer chova ou faça vento ou bom tempo, procurando um espojadoiro ate se transformar em jumento. Se, em vez de procurar um espojadoiro, se meter num charco onde tenha permanecido um porco, ou se roçar por um sítio onde se tenha deitado um cão, é a forma destes animais que ele adquire. Corre em seguida por secas e mecas, percorrendo caminhos e veredas escondidas, até que ao romper da manhã, volta ao espojadoiro e readquire a sua forma natural de ser humano.
Se durante essas loucas correrias o lobisomen for ferido por qualquer criatura...perde-se o encanto e retoma imediatamente a forma humana, para não mais voltar a ser lobisomen.
Infeliz, porém, pouco poderá sobreviver esta quebra de encantamento: uma profunda tristeza o invade, um mau estar o consome e a morte não demorará a pôr à sua triste sina.

Almas do outro mundo, fantasmas e luzinhas nocturnas
Tais visões, segundo se acredita, aparecem a certos indivíduos, crentes em que vêm a este mundo as almas daqueles que deixaram de existir, espíritos desinfelizes que vagueiam no espaço, sem terem entrada no céu, quer porque em vida, deixaram de cumprir certas promessas, quer porque não se penitenciaram das suas culpas ou, após a morte, se lhes não rezaram orações, nem disseram missas pelo seu eterno descanso.
Note-se bem que estas aparições só são vistas por indivíduos que nelas acreditam porque – diz o povo aos pobres espíritos (almas penadas ou almas errantes, cuja única missão é pedirem orações para se purificarem).
Diz o grande livro de São Cipriano
“Quando vos aparecer uma visão não a esconjureis porque então ela vos amaldiçoará e vos impedirá em todos os vossos negócios, e tudo vos correrá pelo torto; há que recorrer à oração pelos bons espíritos e logo vos aliviareis.
A leitura deste livro (infelizmente, tão conhecido das camadas populares, que o guardam e veneram como coisa sagrada), tem contribuído para avivar a crença em semelhantes práticas, espevitando a curiosidade mórbida das multidões, cada vez mais ansiosas por desvendar os mistérios do Além, pelas chamadas ciências ocultas.
No mesmo livro fui encontrar um capítulo especial tratando de espíritos diabólicos que infestam as casas com estrondos e remédio para os evitar.
Não admira que com semelhante leitura e com o que a tradição oral vai transmitindo de geraç em geraç a crença popular se encontra ainda muito espalhada pelas nossas aldeias, como pelas vilas e até nas cidades. Em algumas delas, segundo voz corrente – nelas aparecem fantasmas e outras aparições que pela noite adiante, incomodam toda a vizinhança com estrondosos rumores...

Conta-se até que determinada pessoa comprou, no nosso Alentejo, por baixo preço, uma moradia que ninguém queria habitar “por nela aparecer um fantasma em figura de velho, com aspecto escálido, rosto macilento, barba comprida, cabelos arrepiados, mãos atadas com cadeias e grilhões que arrastava”... Essa pessoa quando lhe apareceu semelhante visão, correpondendo à sua chamada, seguiu-a até ao quintal da casa. E tendo a visão ali desaparecido, mandou a pessoa cavar a terra no dia seguinte e nela encontrou um cadáver amarrado com cadeias e grilhões, tal como lhe aparecera o fantasma. Dada a sepultura condigna ao corpo encontrado, a aparição não mais tornou a incomodar a dita pessoa que tranquilamente pode disfrutar a casa adquirida por irrisória quantia.
Como este caso, referido no Livro de S. Cipriano, apontam-se, às dezenas, outros ocorridos em muitas das nossas povoações.
A propósito de cada aparição, o povo faz os mais absurdos comentários, e o mistério com que são rodeados põe uma população inteira em alvoroço; todos querem ver com os seus próprios olhos, observar, ouvir... No rosto de uns transparece por vezes, a dúvida, a expectativa, o desejo de desvendar o mistério. No de outros, há visíveis sinais de terror, de tragédia que não sabe como evitar-se.
A alma do outro mundo vai manifestar-se... Todos os presentes suspendem a respiração... Já se ouvem os primeiros rumores no telhado... e os cabelos começam a pôr-se em pé ou a gelar o sangue nas veias... O vento zune lá fora as pedras fervem no telhado, as portas batem, os móveis mudam-se de um lugar para o outro lugar – tudo isto ouvem e vem muitos dos espectadores.
Nestes casos é preciso enfrentar a situação, vencer o tremor, e adquirir confiaça:
“Se és alma do outro mundo, eu te requero que me digas quem és e o que queres, porque eu te farei se puder”.
Se na aparição a pessoa reconhecer qualquer defunta pessoa de família – como geralmente acontece, e isto porque as súplicas feitas nestas condições nunca deixam de ser atendidas – só tem que dizer simplesmente:
Da parte de Deus te requero:
Diz o que queres!
E assim, o espírito dos mortos fala...conta suas mágoas... diz o que devem fazer os parentes, para que possa descansar o sono eterno do justos.
São muitos os casos conhecidos na maioria das nossas povoações. Não vale a pena estar aqui a narrá-los isoladamente, porque com mais ou menos pormenores, todos eles vem dar ao mesmo, todos tem mesma origem, mesma causa, a mesma finalidade.
Como vimos, nos casos aqui tratados, são os mortos que procuram os vivos para deles obterem favores. Mas, ao que parece, também aos vivos é dado procurar os mortos, requerer a sua presença, fala-lhes.
A mesa de pé de galo... é a grande intermediária. Por ela e com ela se estabelecem grandes conversações entre vivos e mortos.
Quem nas nossas aldeias, não assistiu ao espectáculo de ver sentados em volta da mesa de um só pé e tampo redondo, certo numero de pessoas, crentes em tal mistificação, todos de mãos estendidas e com as palmas a tocar ligeiramente o tampo da mesa, para que esta se incline para um lado ou para outro, dê uma ou várias pancadas, conforme as respostas às perguntas que uma das pessoas faz ao morto com quem deseja falar.
 IREI FALAR NAS LUZINHAS NOCTURNAS, que aparecem aqui e além e vagueiam toda uma noite, por esses campos e que não são mais que espíritos errantes, a cumprir seus tristes fados. Recordam-se da criança que atrás falei...

Quando era-mos vivos andávamos pelos caminhos, agora somos mortos andamos pelos barrancos.

Sem comentários:

Enviar um comentário