"Que o Senhor vos ilumine, abençoe e vos proteja."

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Lembranças de outros tempos…

Lembranças de outros tempos…
No carnaval, quando o inverno era bastante chuvoso e o regatos corriam até inchar a terra, onde se podiam ver poejos pelo meio de margaças e cardos, escondendo-se aqui e ali por entre as pedras e torrões.
Esta menta das planícies cobria-se de folhas largas, dum verde viçoso e as mãos de quem as colhe ao passar pelos rebentos tenros ficava com um cheirinho intenso que nos trazia à memória muitas lembranças de antigamente.
Apanhar poejos ainda hoje é como se costuma dizer ofício de pobres, ciganos e tendeiros, mas na nossa infância que recordo, quem ia vendê-los a minha casa era o Ti Sete e Picos lá do sítio, a cinco tostões o molho. Lavados, já sem raízes, ainda vertiam água no fundo da alcofa feita de palha.
Lembro-me que minha mãe comprava logo três ou quatro molhinhos para fazer o nosso jantar predileto.
Feijão manteiga, de molho de um dia para outro, e vá de cozer ao lume de chão na panela de barro mascarrada doutros cozimentos – água bastante e sal a calhar para não ficar doce. Depois, dois ou três dentes de alho e uma folhinha de louro, sete ou oito colheres de azeite, quatro batatas partidas aos quadrados pequenos para engrossar e os poejos arranjadinhos, tudo lá para dentro da panela com água fervendo, o fogo fazia o resto.
 Depois já desenssalado o bacalhau que de véspera tinha sido colocado dentro de água, cortado às postas, era embebido no caldo e ao fim de alguns minutos estava pronto para o repasto da família.
Naquele tempo, andando eu brincando, à tardinha, no corredor da casa, por causa do tempo que estava malino, vinha-me aquele cheirinho forte da cozinha, até fazia crescer água na boca e não resistia e dizia pra minha mãe: mãe deixe-me provar um bocadinho!
À noite quando o nosso pai chegava do trabalho, aquilo é que era, batíamos duas pratadas, cada um, de feijão com bacalhau e poejos, até ficávamos impando.
Depois, sabemos todos o que o velhaco do feijão faz aos intestinos, e o pai sem querer, lá fazia rebentar uns sonoros e fortes barulhos, acusando os filhos e era uma barrigada de rir sem destino. Ai que saudades ! !
B/M

Sem comentários:

Enviar um comentário