Este paço, também conhecido por Paço Real de S. Francisco (encontra-se na enorme cerca dos Franciscanos), foi construído cerca de 1470 no local do desaparecido paço de madeira, executado expressamente para as festas e banquetes do casamento dos príncipes herdeiros, D. Isabel de Castela e D. Afonso de Portugal, filhos dos Reis Católicos e de D. João II, em 1490.
D. Duarte e D. Afonso V já tinham habitado, desde meados do séc. XV, numa parte do convento franciscano e na igreja.
Supõe-se que a residência real terá começado por ocupar a Sala dos Estudos, fundada por D. Afonso V como primeira Livraria da Corte, mas algum tempo depois começou a alargar-se a outras dependências do convento e a alongar as edificações pela cerca.
A igreja foi bastante engrandecida ao nível arquitectónico pelas sucessivas benesses régias, pois aí eram celebradas todas as cerimónias inerentes à Capela Real, intromissão profana que perturbou o austero viver monástico e originou censuras papais, o que motivou a construção da elegante Galeria das Damas (nome actual), o único elemento desse grandioso conjunto, no qual se contavam as Salas da Rainha, dos Embaixadores e a Livraria Régia, a primeira instituída pela Coroa, cerca de 1460.
A construção do alpendre com arcos em ferradura, de influência mourisca, data do reinado de D. João II.
No edifício realizaram-se cerimónias memoráveis da História de Portugal: em 1497, o investimento de Vasco da Gama no comando da esquadra de descobrimento da Índia e a sua nomeação, em 1519, de 1º conde da Vidigueira; os recitais de seis autos de Gil Vicente; as cortes nacionais de 1535; nascimento e mortes de príncipes, filhos de D. Manuel e D. João III; aulas pré-universitárias; recepções solenes a homens ilustres do Humanismo e da Cultura do país, entre outros acontecimentos.
D. Sebastião e os monarcas espanhóis pouco estimaram os paços (considerados, actualmente, os mais grandiosos depois dos da Ribeira, de Lisboa), até que Filipe III, o qual visitou Évora em 1619, e a solicitação da comunidade, abdicou da pertença dominial regalenga sobre o imóvel.
Por altura da extinção das ordens religiosas foi encerrado e, mais tarde, em 1895, foi destruído.
Do conjunto subsiste o pavilhão manuelino, o qual serviu de trem militar, de teatro e animatógrafo, até ter sido atingido por um incêndio em 1916.
Entre 1943 e 1947, foi restaurado pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, tendo recuperado toda a estrutura quinhentista dos pisos térreo e nobre, salientando-se a galilé, com arcos de ferradura, denticulados e ultrapassados, de ladrilho vermelho. As janelas geminadas são do mesmo estilo mudéjar, e as abóbadas de nervuras, com capitéis e mísulas em pedra.
A torre, além do portal querenado, com os símbolos manuelinos da cruz de Cristo e das esferas armilares, apresenta uma secção posterior, agulhada e em estilo renascença, enobrecida por três originais balcões de peitoril, em mármore, esculpidos ao gosto salmantino. As coberturas do andar principal foram reconstituídas segundo modelos do tipo de alfarge, copiados de caixotões existentes no Norte do país.
Desconhece-se quem foi o autor do projecto deste edifício antigo, visto não estar documentado, mas sabe-se que pertence ao ciclo dos grandes mestres locais de pedraria, do reinado de D. Manuel I: D. Diogo e Francisco de Arruda, Martim Lourenço ou Pero de Trilho, todos arquitectos da casa real portuguesa (1495-1521). A Galeria das Damas encontra-se situada num jardim público, de influência romântica.
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