"Que o Senhor vos ilumine, abençoe e vos proteja."

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Medicina popular...

Medicina popular


A noção de doença, entre o povo, é de variadas espécies. Sabe que tem o estômago que lhe dói, um pulmão lurado que sangra, um intestino alterado a que atribui diarreias, um fígado onde se geram pedras ou um coração que enfraquece. Sabe tudo isso, no ponto de vista natural; sabe que outros sofrem também desses e de outros órgãos. Embora localizado neste ou naquele órgão, é um acto oculto e insidioso de certos entes imateriais, do próprio Deus, juiz irado, ao Diabo, a espíritos ruins, a maus-olhados, a feiticeiros e bruxas, aos mais diversos agentes ocultos.

Um malzinho que deus dá, um diabo que se nos mete no corpo, um olhar de bruxa que fez secar o menino, a passagem de uma mulher menstruada, o piar de uma coruja, um dobre de sinos, enfim, toda uma teoria infindável de razões para este acontecimentos, muito temíveis e fora do alcance da medicina oficial, que na da disso sabe, lamentavelmente céptica e terrivelmente irrespeitosa.

O pecado, a falta de moral é origem de doenças. «Que mal teria eu feito a Deus?», diz-se no tormento de uma aflição, de uma dor de uma enfermidade.

Por isso o povo ante a ineficácia de uma terapêutica oficial, ao começar uma doença ou no seu curso, procura razões ancestrais e sobrenaturais na origem do mal e no insucesso dos remédios, para acudir ao poder e saber dos bruxos, dos adivinhos, dos bentos, dos exorcistas, dos curandeiros de toda a ordem.

É o mesmo homem, defensivo, apavorado, temente de tantos fenómenos cosmológicos, do relâmpago ao trovão a um dilúvio ou a um vulcão, tenta apaziguar os espíritos maléficos que os geram, serenar as almas sofredoras, esmagar adversários invisíveis. Daí usar omuleto, os encantamentos, as ofertas a este ou aquele ser.

Numa investigação levada a cabo, pude constatar que, por exemplo: São Roque protege da peste, São Braz das dores e mal da garganta, Santa Luzia protege os olhos, São João Batista, cefaleias, São Bartolomeu da cólera e febre-amarela; Santos Reis Magos, vertigens; Santo Ildefonso, apoplexia; Santa Brígida, insuficiência mental; Santo Inácio males cardíacos; Santo Apolinário hérnias; Santo Amaro, doença dos ossos; O Bem-aventurado Miguel dos Santos, cancros e tumores; São Cristóvão fastio; São Sérvulo, paralisia; Santa Apolónia, dores de dentes; Santa Mónica e Santa Ana, alterações do juízo; Santa Águeda, males dos seios, etc., etc.

Não apenas os santos são intercessores, junto der Deus, para a cura de certas doenças, mas também o povo erege em favoráveis intermediários alguns mortos, pelo que é frequente haver, por esses cemitérios e capelas do país, pessoas a quem o Povo atribui dons especiais como os que concede aos Santos, mortos a quem rendem culto especial (romarias, promessas, círios...)

De outros existem restos de ossos (crânios, ou suas; dos braços, mãos, pés, etc.), guardados em igrejas e outros lugares de culto, não sendo raras as cabeças santas, que tinham a propriedade de sararem os mordidos de cães danados, quando as tocassem.

Em alguns museus, existem peças deste género, como por exemplo, o relicário que encerra o calcâneo de São Torcato e uma calote craniana (a cabeça Santa), que tinha o condão de curar os hidrófobos (Que tem horror à água e a quaisquer líquidos.

Diz-se dos animais atacados de hidrofobia.)

 Diz-se a lenda que o próprio D. João I, mordido por um cão danado, ficou isento do mal por ter tocado nesta preciosa relíquia, que outros dizem ter pertencido a S. Rodrigo.

Ora, tudo exprime quanto é interessante e instrutivo, no ponto de vista psicológico, etnográfico e social tão vasto campo cultural do povo.

Para isso, se serve das mais estranhas doutrinas e conceitos, como dos mais estranhos objectos e substâncias, quer no diagnóstico, quer na terapêutica; hóstias sagradas, chaves de sacrário, estolas sacerdotais, imagens de santos, terra de sepulturas, ossos e dentes de defuntos, covas ou pegadas nas rochas, água benta, ervas sem conta; produtos e excreções orgânicos mais ou menos repugnantes, desde a cera dos ouvidos ou a saliva até à urina, o sangue menstrual ou excrementos.

Fácil é depreender quantos perigos de contágio e infecção não representam tais práticas.

As fontes, rios e ribeiros, poços e árvores; pedra de várias naturezas, de tudo se serve o povo em terapêutica. O uso de substâncias repugnantes basear-se-ia na ideia de que, por o serem, afugentariam o espírito maléfico que se introduzira no corpo do doente.

Era isto e muito mais a medicina popular portuguesa...

1 comentário:

  1. tambem o risco de contaminacao com seringas pode e acontece nos hospitais. Medicamentos que curam ou aliviam os sintomas de doenca no hospital mas prejudicam gravemente a vida ou a qualidade de vida do paciente. Medicamentos modernos que foram testados e estudados por entidades patrocinadas pelas grandes farmaceuticas multinacionais. AHA dont get me started. cientistas recentemente teem feito estudos em tribos nativas e estao admirados com o conhecimento ervanario, depois de despropriarem estas pessoas do seu conhecimento para encherem os cofres das farmaceuticas afirmam k e tudo supersticoes... abram os olhos por favor

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