Na nave central da Sé de Évora, do lado do Evangelho, situa-se a capela de Nossa Senhora do Ó, onde em excelente altar de talha dourada seiscentista (Cª 1690-1700) se exibe a imagem quatrocentista da Senhora do Ó, em calcário policromado. Este altar teve um enorme culto, pois quando a Sé funcionou como Paroquial era aí celebrada missa para o povo. A esta imagem foi, cerca de 1500, associada uma outra, em madeira de carvalho estofada, do Anjo Anunciador, atribuível à oficina do escultor flamengo Olivier de Gand, activo em Portugal nos alvores do séc. XVI. Esta associação, transformando o tema numa Encarnação, tem o maior interesse, pois deve ter permitido que o culto continuasse activo, mesmo depois da sua condenação pelo Concílio de Trento, e as duras palavras de crítica do teólogo Molanus de Louvaina. O tema da Virgem grávida é de origem bizantina e aparece, por via italiana, na arte ocidental apenas no século XIV. Apesar das dúvidas dos teólogos, o culto teve grande aceitação popular, pela protecção que oferecia na gravidez e no parto, a que estava associada uma das principais causas de mortalidade feminina, o que explica a grande propagação do tema em Évora, onde existe uma capela desta invocação (na Porta de Avis), e a presença na capela de S. Pedro de outra imagem do tema, em calcário, de fins do século XIV, talvez uma das mais antigas representações portuguesas.
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