Uma lenda associada a esta imagem, contada no século XVIII pelo Padre Francisco da Fonseca na sua Évora Ilustrada, diz que dois peregrinos procuraram vendê-la a Isabel Afonso, eborense vizinha do convento do Paraíso. Quando quis pagá-la os peregrinos tinham desaparecido, ficando Dona Isabel com a certeza que seriam dois anjos e resolvendo doar a imagem ao convento próximo no final do século XV. Esta associação lendária é curiosa, pois a difusão deste tipo de peças na península ibérica parece ter estado claramente associada a rotas da peregrinação a Santiago de Compostela, como mostram os outros exemplares conhecidos (Santa Clara de Allariz, Ourense; San Salvador de Toldaos, Lugo, Catedral de Salamanca). O trabalho do marfim era quase desconhecido em Portugal, e tal como os outros exemplares peninsulares de "Virgens abrideiras", também esta de Évora deve ligar-se a oficinas parisienses do século XIV.
A expansão deste tipo de imagens, em que uma figura da Virgem com o Menino se abre a partir do colo para deixar ver um retábulo historiado em várias cenas do Nascimento e da Paixão, deu-se essencialmente nos séculos XIII e XIV, associando uma imagem devocional, na maioria das vezes de materiais preciosos, a uma sequência narrativa, que centrava no culto mariano os passos essenciais da história sagrada. Foram no entanto imagens sempre contestadas, exactamente pela duplicidade das leituras que criavam. Cerca de 1400 o chanceler da Universidade de Paris, Jean Gerson, criticava directamente estas imagens porque "não há beleza nem devoção em tal abertura e pode ser causa de erro e de indevoção". Apesar das críticas o seu culto manteve-se e, embora raros, existem mesmo exemplares posteriores ao Concílio de Trento.
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